Artigo publicado nos Anais do VI Congresso Internacional de Psicopatologia Fundamental e XII Congresso Brasileiro de Psicopatologia Fundamental 2014. Setembro 2014.
Resumo: este trabalho procura destacar como os sacrifícios materiais para a constituição de uma imagem corporal adequada ao ideal de eu (viabilizada pelas novas técnicas cirúrgicas) podem nos indicar que direção as fantasias inconscientes percorrem na busca de sua meta de satisfação. A questão central que pretendemos investigar é, portanto, acerca da relação das fantasias – aqui compreendidas como produção da linguagem que revela, a um só tempo, o assujeitamento estrutural à realidade do significante e a produção do sujeito que busca responder à falta do Outro – e o masoquismo feminino. Sabemos que o masoquismo feminino refere-se aos fantasmas produzidos pelo sujeito a partir da identificação feminina, que por sua vez se caracteriza pela posição da castração. Sob esse ponto de vista, um dos efeitos do masoquismo feminino seria o de colocar-se no lugar de objeto da fantasia masculina. Nesse sentido, podemos especular se o masoquismo feminino não consolidaria atualmente uma das figuras preponderantes de subjetivação na contemporaneidade.
Artigo publicado nos Anais do V Congresso Internacional de Psicopatologia Fundamental e XI Congresso Brasileiro de Psicopatologia Fundamental 2012. Setembro 2012.
As identificações e o trabalho (infindável) de um luto
Resumo: Este trabalho tem como objetivo analisar o processo de elaboração do luto a partir de um caso clínico, atendido em um contexto hospitalar. O caso em questão refere-se ao paciente “Inácio”, que, após um grave acidente automobilístico, é internado na UTI. A equipe de psicanalistas é solicitada, a fim de assegurar que o paciente suporte a notícia da morte de sua esposa, ocorrida no mesmo acidente. Para Freud, em Luto e Melancolia, o trabalho do luto consiste na retirada da libido do objeto amado. Tal processo mobiliza as primeiras identificações, momento em que a apropriação das ausências e das presenças constrói, pela via da incorporação, a construção de um eu. A perda da pessoa amada mobiliza o ideal de eu, a insígnia, a marca do outro mais precoce em relação a todo o investimento objetal, qual seja, a identificação com o pai da pré-história pessoal. Trata-se de analisar como ocorre o desinvestimento e a substituição do objeto pela via da identificação nesse paciente, cujo fantasma de vulnerabilidade psíquica preexistia ao acidente.
Infância perdida: a concepção de “menores anormais” na obra de Pacheco e Silva
Resumo: A pesquisa busca analisar a concepção de menores anormais na produção científica do psiquiatra paulista Antônio Carlos Pacheco e Silva, na década de 1930, no estado de São Paulo. A maior parte do material analisado encontra-se no acervo do Museu Histórico Prof. Carlos da Silva Lacaz, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Privilegiou-se, como recorte crítico de leitura, os escritos do psiquiatra que direta ou indiretamente discutem a infância. Porta-voz decisivo dos ideais da ciência médica do período, Pacheco e Silva teve grande importância para a institucionalização da psiquiatria no estado de São Paulo, baseando-se nos preceitos da higiene mental e da eugenia. Pode-se afirmar que o discurso sobre a anormalidade infantil, proveniente de Pacheco e Silva, estava em consonância com a preocupação política estadual de higienização da população, o que pressupunha vigiar e restringir a circulação social das crianças que, por sua condição econômica e/ou racial, não condiziam com o modelo desejado pelos higienistas.