Artigo publicado nos Anais do V Congresso Internacional de Psicopatologia Fundamental e XI Congresso Brasileiro de Psicopatologia Fundamental 2012. Setembro 2012.
As identificações e o trabalho (infindável) de um luto
Resumo: Este trabalho tem como objetivo analisar o processo de elaboração do luto a partir de um caso clínico, atendido em um contexto hospitalar. O caso em questão refere-se ao paciente “Inácio”, que, após um grave acidente automobilístico, é internado na UTI. A equipe de psicanalistas é solicitada, a fim de assegurar que o paciente suporte a notícia da morte de sua esposa, ocorrida no mesmo acidente. Para Freud, em Luto e Melancolia, o trabalho do luto consiste na retirada da libido do objeto amado. Tal processo mobiliza as primeiras identificações, momento em que a apropriação das ausências e das presenças constrói, pela via da incorporação, a construção de um eu. A perda da pessoa amada mobiliza o ideal de eu, a insígnia, a marca do outro mais precoce em relação a todo o investimento objetal, qual seja, a identificação com o pai da pré-história pessoal. Trata-se de analisar como ocorre o desinvestimento e a substituição do objeto pela via da identificação nesse paciente, cujo fantasma de vulnerabilidade psíquica preexistia ao acidente.
Infância perdida: a concepção de “menores anormais” na obra de Pacheco e Silva
Resumo: A pesquisa busca analisar a concepção de menores anormais na produção científica do psiquiatra paulista Antônio Carlos Pacheco e Silva, na década de 1930, no estado de São Paulo. A maior parte do material analisado encontra-se no acervo do Museu Histórico Prof. Carlos da Silva Lacaz, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Privilegiou-se, como recorte crítico de leitura, os escritos do psiquiatra que direta ou indiretamente discutem a infância. Porta-voz decisivo dos ideais da ciência médica do período, Pacheco e Silva teve grande importância para a institucionalização da psiquiatria no estado de São Paulo, baseando-se nos preceitos da higiene mental e da eugenia. Pode-se afirmar que o discurso sobre a anormalidade infantil, proveniente de Pacheco e Silva, estava em consonância com a preocupação política estadual de higienização da população, o que pressupunha vigiar e restringir a circulação social das crianças que, por sua condição econômica e/ou racial, não condiziam com o modelo desejado pelos higienistas.
O atendimento da crise psicogênica nos prontos-socorros
Este artigo analisa um aspecto da clínica médica e a rotina de acolhimento de doenças psicogênicas neste campo. A partir do fragmento de um caso de atendimento médico em pronto-socorro, observou-se um desmerecimento a pacientes com manifestações histéricas com somatização, consideradas pela equipe da instituição, ironicamente, como “emergências emocionais” ou “pitis”. Tal comportamento reflete um problema clássico da deficiência de conhecimento sobre a medicina psicossocial, que se torna paradigmático nestes casos, onde há uma linha tênue entre o psíquico e o corporal. Para entender essa dinâmica, acreditamos que seja necessária uma incursão no contexto histórico do privilégio do diagnóstico racional, do discurso científico e suas influências no ensino médico contemporâneo.
Saúde Mental Infanto-Juvenil: usuários e suas trajetórias de acesso aos serviços de saúde
Resumo: Este trabalho analisa o perfil de usuários infanto-juvenis e sua trajetória no acesso aos serviços de saúde no CAPS Casinha, localizado na cidade de São Paulo. A natureza qualitativa deste estudo permitiu privilegiar o ponto de vista dos usuários, sua capacidade de expressão, seus medos, críticas e anseios por saúde. Temas como escolarização, isolamento social, discriminação, relações familiares e barreiras na obtenção dos serviços de saúde foram foco desta pesquisa. A identificação de tais problemas aponta para a necessidade de inclusão social, melhoria e ampliação dos serviços de saúde mental para a clientela infanto-juvenil e a necessidade de desmistificação da doença mental na família e no ambiente escolar. Além disso, a pesquisa revela que a estruturação adequada dos serviços públicos de saúde mental constitui um modelo de referência fundamental para a população-alvo.
Inclusão da Contracepção de Emergência: uma experiência da política brasileira de planejamento reprodutivo
Resumo: A política de distribuição da contracepção de emergência foi avaliada no estado de São Paulo por esse estudo quantitativo realizado em secretarias municipais, procurando identificar os serviços utilizados para a dispensa do método, as orientações e os fluxos envolvidos neste processo, o público beneficiado pelo insumo e as facilidades e obstáculos para esta política. As principais dificuldades apontadas para a implantação da política foram a resistência por parte dos gestores municipais de saúde e a aceitação de prescrição por enfermeiros, apontando que a atualização profissional, a disseminação de normas e fiscalizações para proporcionar a efetivação desta política federal devem ser prioritárias.